quinta-feira, 3 de maio de 2007

Sónia Castro


Convite

É assim o teatro


Um bilhete. Cadeiras e rostos desconhecidos. Um espaço que se torna escuro, enigmático e acolhedor. E dá-se início à viagem. Este é o único local onde é obrigatório mentir. Onde se pode e se deve fingir. Aqui é permitido rir e chorar. Ter medo e questionar. Aplaudir e sonhar.

É assim o teatro. A arte da representação, da imitação, do fingimento. A união perfeita e harmoniosa entre o corpo, a voz, a alma. O inspirar e o expirar contínuos, nem sempre pausados, entre actor e espectador. A interactividade constante entre o palco e a plateia. Uma teia de emoções que envolve toda a atmosfera.
É assim o teatro. Drama, comédia, tragédia, absurdo, musical. Tantos os géneros quantos aqueles que se dedicam a viver outras vidas. São actores. Mais que do pão, vivem do amor e da dedicação à arte de Talma. Profissionais ou amadores, uma comunidade que se apodera de salas de teatro e auditórios (e são tantos!). Quantos reis e imperadores não elevaram esta arte a culto? Quantos encenadores não se renderam a este modo de vida?
É assim o teatro. Nada como experimentar. Sempre sedento de público, movimenta-se entre a elegância e a sedução, entre o irreverente e o obscuro. O melhor de tudo é a surpresa. Um segredo escondido ávido por ser partilhado. Uma explosão sem limites. Indescritível.
É assim o teatro. Sempre de portas abertas como que convidando quem passa a uma visita: “Entre, sente-se e fique confortável. O espectáculo está quase a começar”. Atrás do pano, a adrenalina dispara. Mas ali, onde todos estão sentados, o silêncio e a expectativa comandam o olhar. E tudo acontece. Tão perto. Ali. Numa sala perto de si.

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